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Horácio Mateus

Faz 71 anos que nasceu Horácio Mateus. Deixou-nos há pouco mais de oito anos.

Os últimos anos do Horácio e a sua relação com o Museu foram atribulados principalmente pela profunda depressão que o atacou. Ficou com mágoas, deixou mágoas. Isso não obriga a que o releguemos para segundo plano, pensando que se não fosse ele o Museu não existiria de facto. Desde a luta constante para a obtenção do edifício, como a sua transformação física, a recolha dos materiais de etnologia e arqueologia, a angariação de fundos, tudo isto com a ajuda denodada de um grupo de amigo do GEAL, entre os quais tenho a honra de ter estado e onde estavam, muito novos ainda, os dois filhos mais velhos do casal, Simão e Octávio, que lhes seguiram científica e brilhantemente os passos.

Quando a Isabel e ele, graças à necessidade urgente e natural da sua filha Marta, descobriram o ninho de ovos de dinossauro, o Museu estava pronto para os receber e foram ambos que se dedicaram à investigação e foram eles sozinhos que vislumbraram os fetos. Depois foram, para ambos, uma série de anos de contactos, de estudo e de cursos de pós-graduação.

E foi o Horácio, com a ajuda do microscópio binocular emprestado pela Escola EB 2,3 Dr. Afonso Rodrigues Pereira, quem descobriu os fetos de dinossauro no ninho de ovos. Telefonou-me logo entusiasticamente e, quando lá cheguei a casa, estava ele a mostrar à Isabel um minúsculo osso.

Foram os ovos que deram projecção mundial ao Museu, mas foi o amor e a curiosidade de ambos pela descoberta que lançaram as raízes da dita projecção e do desenvolvimento das transformações físicas e de organização científica a que o Museu chegou até hoje. Mas foi o Horácio a locomotiva que rebocou a quinzena de amigos, ao princípio e a seguir 3 ou 4, que de picaretas, pás, carrinhos de mão, reboco, pincéis e tinta, madeira, martelos e pregos restauraram o edifício e o foram enchendo com o que recolhíamos e/ou nos era trazido, classificando e legendando.

De todas as pessoas que conheço, o Horácio Mateus foi o exemplo mais perfeito de resiliência, palavra que vai estando na moda, mas que já então se lhe aplicava por inteiro. A primeira homenagem que se lhes fez, a ele e à sua Isabel, partiu da minha proposta à Assembleia Geral do GEAL, que os fez sócios honorários.

Está na altura de pormos em lugar de relevo a tão só figura do primeiro e principal fundador do Museu da Lourinhã (nos seus dois sentidos de fundação física e estrutural).

Onde quer que estejas, Horácio, os aqui presentes estamos sempre contigo na memória. 

Jorge H. Moniz Ribeiro, cofundador do Museu da Lourinhã