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25 Abril: alunos das Caldas da Rainha transformam lápis da censura em lápis da liberdade numa sessão realizada no CCC

ccc

Alunos das Caldas da Rainha transformaram hoje o lápis azul da censura do tempo da ditadura num símbolo da liberdade de expressão, desenhando azulejos para um mural digital, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, cuja sessão decorreu no Centro Cultural e de Congressos (CCC).

A convite da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, 130 alunos do concelho das Caldas da Rainha participaram na campanha 'A minha liberdade é para todos', projecto que “transforma o lápis azul usado pela censura num símbolo da liberdade de expressão”.

Na sessão os alunos assistiram a um debate sobre a censura e os limites à liberdade de expressão, relatados pela historiadora Irene Pimentel, pelo capitão de Abril Nuno Santos Silva e pelo ilustrador Nuno Saraiva. “Antigamente era assim”, afirmou a historiadora, lembrando o tempo da ditadura, quando “o regime queria passar a imagem de que o país era um paraíso”.

Valendo-se dos censores e do “lápis azul” para limitar “os livros que se podiam ler, os filmes que se podiam ver, as notícias que se podiam divulgar", o regime passava a imagem de que “não havia aborto, não havia suicídio, não havia água inquinada”, disse, lembrando que só através da emigração os portugueses, “perceberam que noutros países tinham liberdade de expressão ou direito à greve".

Na revolução que abriu caminho à transformação de Portugal num país democrático, em 25 de Abril de 1974, coube ao capitão de Abril Nuno Santos Silva, contribuir para a queda do regime tomando o Rádio Clube Português, “a única estação que emitia para todo o país”. Na altura “não era politicamente consciente, mas era um homem de boa vontade”, contou o militar, que em 25 de abril de 1974 bateu à porta da estação de rádio e disse ao porteiro: “estamos aqui para dar um golpe de Estado”. Do porteiro ao jornalista de serviço foram “repetindo a explicação e toda a gente acatou”, pacificamente, embora “um tal senhor Pinto tenha pedido para telefonar para casa”. Um pedido negado pelos militares que “arrancaram os fios do telefone”.

Se fosse hoje, disse o ilustrador Nuno Saraiva aos jovens, “se vocês fossem fazer um golpe de estado, ocupavam o ‘you tube’ e o ‘tiktok’, porque têm a comunicação e a liberdade de bloquear ou censurar nos bolsos”. Nascido quatro anos antes da revolução, o ilustrador trouxe às Caldas da Rainha memórias da infância, quando, por ser filho de um militar destacado para a guerra colonial, assistiu ao acto desesperado de um alferes que “deu um tiro no pé” ferindo-se para ser desmobilizado. Desse tempo ficou a memória dos sons “do choro do homem, da raiva, do disparo”, marca que hoje o levou a apelar “aos netos da revolução das Caldas” para que usem o lápis azul “como lápis da liberdade e não lápis da opressão”, para que os relatos que ouviram “não voltem a acontecer”. Também para isso pretendem contribuir as comemorações que, segundo a comissária executiva da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, Maria Inácia Rezola, visam “transmitir Abril aos mais jovens e deixar uma marca sobre a importância que este tem ainda hoje no quotidiano e sobre a democracia”.

Recusando comentar os resultados das últimas eleições legislativas, Maria Inácia Rezola afirmou que “Abril tem que ser vivido todos os dias”, celebrando não apenas “o fim de 48 anos de ditadura, mas também os 50 anos de construção da democracia”. “Valores como a liberdade e a democracia são as grandes conquistas do 25 de Abril, mas são sempre processos em que é preciso investir quotidianamente e, portanto, estas celebrações são uma oportunidade para recentrar e reflectir sobre o caminho percorrido e o que se quer para os próximos 50 anos”, concluiu.

A sessão terminou com os alunos a desenharem, com o lápis azul, azulejos sob o tema liberdade, dos quais os cinco melhores integrarão o mural digital colaborativo que será revelado em Abril no ‘site’ do projecto.

Texto: ALVORADA com agência Lusa
Fotografia: Direitos Reservados (arquivo)