Cinco espécies de crocodilos viveram há 150 milhões de anos com dinossauros na Lourinhã
- Categoria: Lourinhã
- 12/12/2019 15:33

Um novo estudo científico, focado em minúsculos dentes de crocodilomorfos - grupo que inclui os crocodilos actuais e seus ancestrais mais próximos - descobertos nas falésias do concelho da Lourinhã, mostrou que pelo menos cinco espécies coabitaram num sistema de rios jurássicos da região. Esta espécie foi muito muito abundante e diversa no final do Jurássico, há 150 milhões de ano. O trabalho agora publicado na prestigiada revista científica internacional ‘Zoological Journal of the Linnean Society’ e é parte integrante de uma dissertação de mestrado em Paleontologia por Alexandre Guillaume, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e Museu da Lourinhã. O paleontólogo começou agora o seu doutoramento com foco em microfósseis (fósseis menores que 5 mm) de vertebrados. Esta tese foi coordenada pelos paleontólogos das mesmas instituições, Miguel Moreno-Azanza e Octávio Mateus, juntando-se também para este artigo Eduardo Puértolas-Pascual, especialista em crocodilomorfos ibéricos.
Segundo Octávio Mateus, centenas de quilos de sedimentos jurássicos do concelho da Lourinhã foram peneirados e os fósseis, “que podem ser tão pequenos quanto um milímetro”, foram triados e incorporados nas colecções do Museu da Lourinhã. De entre os milhares de fósseis encontrados, os pequenos dentes de crocodilomorfos estão entre os elementos mais comuns nesses sedimentos, pertencendo a espécies pequenas e a juvenis de espécies maiores. Este trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pela bolsa de pesquisa Microsaurus-SuperAnimais 3, financiada pela empresa Parque dos Dinossauros da Lourinhã.
Em mais de 120 dentes, recolhidos entre 2017 e 2018, foi possível distinguir 10 morfologias diferentes, de 5 táxons diferentes: ‘Atoposauridae’, ‘Goniopholididae’, ‘Bernissartiidae’, ‘Lusitanisuchus mitracostatus’ e um crocodilomorfo indeterminado. O ‘Lusitanisuchus’ já era conhecido a partir de material fóssil da Mina da Guimarota, em Leira, mas esta é a sua primeira descoberta na Lourinhã. “Também é de notar a ausência de dentes pertencentes ao ‘Machimosaurus hugii’, um crocodilomorfo marinho cujos dentes provenientes de Lourinhã já foram encontrados e publicados, e ao ‘Lisboasaurus estesi’, outro crocodilomorfo da Mina da Guimarota, nas amostras estudadas. Finalmente, o pequeno tamanho dos dentes encontrados sugere que os animais a que pertenciam eram jovens ou de espécies pequenas. Contudo, restos esqueléticos precisam ser encontrados para responder a esta pergunta”, destaca o paleontólogo lourinhanense.
Este estudo não aborda apenas a diversidade das faunas jurássicas, mas também explora as suas relações ecológicas. As diferentes morfologias observadas nos dentes permitiram distinguir quatro comportamentos alimentares diferentes: os goniofolídeos alimentavam-se de presas com concha e moles, como jacarés modernos; os bernissartídeos de animais com conchas, como caracóis ou moluscos; os atoposaurídeos e ‘Lusitanisuchus’ de pequenos artrópodes, como insectos e crustáceos e, ocasionalmente, pequenos vertebrados, como mamíferos e anfíbios, como os crocodilianos juvenis existentes; e, por último, o crocodilomorfo indeterminado era um predador carnívoro terrestre.
“A recolha desses pequenos microfósseis é um trabalho árduo, envolvendo mais de 700 horas de trabalho cuidadoso, realizado pelos autores, mas, principalmente, por voluntários do Museu da Lourinhã e estudantes da Universidade Nova de Lisboa. Actualmente, um projecto de ciência cidadã, ‘MicroSaurus’, treina visitantes do Museu da Lourinhã e do Parque dos Dinossauros da Lourinhã para encontrar esses pequenos, mas valiosos, vestígios do passado”, conclui Octávio Mateus.