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Ecumenismo: a unidade apesar das diferenças

Deus tem uma palavra dirigida ao seu povo. É ela que transforma as coisas e é ela que devemos buscar humildemente. É uma palavra que, por vezes, se insinua numa aparência tão frágil, tão pobre… tão subtil que, inicialmente, nem nos damos conta do seu poder. Porém, provinda do Espírito Santo torna-se força que quebra o rochedo mais resistente, renovando e transformando corações. O Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos que a Igreja vive todos os anos nos dias 18 a 25 de Janeiro corresponde a essa necessidade de dar resposta à oração de Jesus antes de se entregar na cruz: “para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste.” (Jo 17, 21)

O Concílio Vaticano II foi uma Primavera do Espírito para a Igreja. O Papa São João XXIII, na manhã de 25 de Janeiro de 1959, a três meses depois da sua eleição para a Cátedra de São Pedro, surpreende a Igreja e o mundo ao fazer o anúncio da sua intenção de convocar um Sínodo para a cidade de Roma e um Concílio Ecuménico para a Igreja Universal. A proposta, surgida da inspiração do próprio papa, correspondia à necessidade, sentida no interior do mundo católico, de realizar uma reflexão profunda sobre o papel da Igreja. Estavam em causa não apenas diversas questões litúrgicas e teológicas como também o diálogo com outras igrejas cristãs, outras religiões e, sobretudo, a adequação às realidades do século XX.

Nada obrigava o Papa a convocar um Concílio Ecuménico, mas São João XXIII era um homem especialmente sensível ao diálogo, escolhendo abrir a Igreja de forma que pudesse manifestar a sua missão de estar atenta às realidades do mundo, da história e da cultura. A sua experiência de contacto com as outras Igrejas Cristãs no tempo da sua carreira diplomática na Bulgária, Grécia, Turquia e, por fim, em França, ajudaram-lhe a compreender a necessidade de criar as bases de um ecumenismo sério e operativo.

São Paulo foi o grande apóstolo das gentes e é, por isso, que este tempo de oração culmina no dia em que a Igreja celebra a Festa da sua Conversão. A sua missão foi a de levar o Evangelho para além das fronteiras do judaísmo, porque a afirmação da universalidade da redenção de Jesus Cristo implica a consciência inequívoca de que Ele oferece a Sua vida por todos os homens, de todos os tempos e lugares. Foi exactamente neste dia, na Basílica papal construída sobre o local do seu martírio, que foi comunicado o anúncio providencial para permitir que a Igreja vivesse o tão desejado, por uma larga maioria, aggiornamento, o abrir as janelas da Igreja de modo a que  se pudesse “fomentar a vida cristã entre os fiéis, adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições susceptíveis de mudança, promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo, e fortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja". (Sacrosanctum Concilium, n. 1)

Um tempo novo, absolutamente necessário, para que o Evangelho pudesse chegar ao mundo e os cristãos fossem fiéis à verdade evangélica no sentido de darem de graça o que de graça receberam. (Mt 10, 8) O desafio permanente é que sem se perder a identidade seja possível crescer num diálogo gerador de comunhão e onde todos aprendam a encontrar-se sob a acção do Espírito na fidelidade à sua vocação baptismal. (1Cor 12, 4-13) Sem os sinais do amor e da unidade a Igreja dificilmente pode cumprir a sua missão de ser a Luz das nações. Num mundo de tantas divisões e discórdias é preciso que brilhe a força da Palavra do Evangelho, o poder deste anúncio que converte os corações e renova as relações em Cristo. A verdade é que a defesa da paz começa pela construção da unidade.

O Papa Francisco no início desta semana exortava com veemência: “Convido cada um de vós a rezar e a trabalhar para que, entre todos os crentes em Cristo, se afirme cada vez mais o caminho para a plena comunhão. Ao mesmo tempo, encorajo-vos para que vos comprometais, com dedicação e em todos os âmbitos da vida, a serdes construtores de reconciliação e paz.

Pe. Ricardo Franco
Edição 1339 - 20 de Janeiro de 2023