A Páscoa do Papa Francisco!
- Categoria: Editorial
Deus é bom! Ver os sinais da sua bondade na nossa e na vida dos outros é estar disposto a ser confirmado na fé, reconhecendo que nada acontece por acaso, mas em tudo o Senhor nos fala com uma Palavra que nos chama a ver para além das nossas circunstâncias, para estarmos numa comunhão de Amor com Ele.
No dia 21 de Abril fomos surpreendidos com o anúncio da passagem para a Casa do Pai do nosso amado Papa Francisco. Apesar de sabermos da sua fragilidade, de como umas semanas antes tinha corrido perigo de vida durante o internamento no hospital, a sua morte naquela manhã de segunda-feira da Oitava da Páscoa era algo que não esperávamos.
Mas se olharmos para além do choque inicial, da comoção e da dor por ver partir quem nos era tão querido, a verdade é que também na morte o Papa Francisco nos falou com uma linguagem que chega ao coração. Nestes últimos tempos podemos ver como ele fez tudo o que estava ao seu alcance para ‘esticar a sua vida’ até chegar à Páscoa. Na Semana Santa fez algumas aparições fugazes para estar junto de quem lhe era querido, nomeadamente, dos presos, e no Domingo de Páscoa aparece à varanda da Basílica de São Pedro, deseja “Boa Páscoa a todos”, dá a bênção Urbi et Orbi própria deste dia, entra no ‘papamóbile’ para percorrer a Praça de São Pedro - sabemos hoje - despedindo-se da multidão, e no dia seguinte já estava preparado para viver a sua páscoa.
O Papa Francisco foi um homem providencial nestes últimos 12 anos da história da Igreja e do mundo. O seu modo de ser latino-americano, próximo das pessoas, com uma linguagem simples, um sentido de humor fácil e espontâneo, fez com que muito rapidamente entrasse no coração das pessoas crentes e não crentes. O seu grande programa/desejo era que contribuir para que fôssemos uma Igreja pobre para os pobres, que anuncia a alegria do Evangelho, e a misericórdia de Deus que não desiste de ninguém porque “Deus perdoa sempre!”.
A sua insistência em que caminhássemos como uma Igreja Sinodal revela como para ele era importante que todos os baptizados na Igreja Católica assumissem a sua identidade e na fidelidade à sua tríplice vocação de serem um povo de sacerdotes, profetas e reis, realizassem na sua existência o que lhes era próprio. Todos podem e devem estar presentes e activos na missão da Igreja na fidelidade aos seus carismas e ministérios. Nas suas palavras a Igreja é formada por ‘discípulos missionários’.
O seu olhar atento e sensível aos grandes problemas do mundo a nível ecológico e geo-político permitiu-lhe escrever vários documentos e fazer várias intervenções acutilantes sobre esta matéria, numa tentativa de ajudar a humanidade a não desperdiçar a troco de muito pouco, de interesses mesquinhos de alguns, o tesouro comum do nosso planeta e da grandiosidade de que os homens são capazes quando vivem como irmãos.
A sua atenção aos excluídos da sociedade, aos considerados ‘descartáveis’, ao flagelo dos refugiados e emigrantes dos países em conflito, às vítimas de tantas injustiças cometidas em nome de uma ‘economia que mata’, mostram o seu enorme coração de pastor que sempre procura a ovelha perdida e cuida da ferida e desprezada.
Para nós portugueses ficará para sempre na nossa memória como o Papa que em Fátima nos lembrou “temos Mãe!”, e escolheu Lisboa e Portugal para organizarem e realizarem o maior evento de sempre da nossa história, que foram as Jornadas Mundiais da Juventude de 2023. É grande a nossa gratidão ao Santo Padre por nos ter permitido viver tantos momentos inesquecíveis cujos frutos ansiamos por ver realizados entre todos nós.
Em pleno Jubileu da Esperança, Francisco partiu para a eternidade prometida aos que acreditam em Jesus, rezamos por ele, como sempre nos pediu, mas agora esperamos que ele possa fazer ainda mais por nós, pela Igreja e pelo mundo ao estar mais próximo do Pai. Talvez seja disso um sinal profético o encontro espontâneo dos presidentes Trump e Zelensky na Basílica de São Pedro por ocasião das exéquias do Santo Padre. A paz é sempre um dom do céu.