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Peniche, Ericeira e Nazaré recebem conferência internacional de surf em Outubro

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A conferência ‘Iniciativas de sustentabilidade da indústria do surf’, realizada este fim-de-semana em San Diego, nos Estados Unidos da América, serviu de pontapé de saída para a ‘Global Wave Conference’, que vai decorrer entre Peniche, Nazaré e Ericeira de 2 a 4 de Outubro. O consulado de Portugal em São Francisco quer estreitar as ligações entre Portugal e a Califórnia através do surf e da conservação com diversas iniciativas ligadas à sustentabilidade e economia azul, disse à Lusa o cônsul-geral. “Como eu costumo dizer, a Califórnia é Portugal em esteroides”, disse Pedro Pinto, em entrevista à Lusa, em San Diego, à margem da conferência.  “É quatro vezes maior, [tem] quatro vezes mais população, mas há muitas semelhanças e há uma empatia natural”, considerou. “Isto é algo que nós trabalhamos para promover sinergias que são mutuamente benéficas a nível político e económico, um nível macro, mas também é importante fazer isto a nível local”.

A conferência, organizada pelo consulado e pela TMA Blue Tech, reuniu uma audiência de surfistas, académicos da Universidade da Califórnia San Diego (UCSD), onde há um centro de excelência de oceanografia, activistas ambientais, empreendedores e estudantes. “Foi uma ideia que nós tivemos para elevar o perfil de Portugal na Califórnia com uma questão que une as duas costas Oeste, a costa Oeste dos EUA que é a Califórnia e a costa Oeste da Europa que é Portugal”, indicou Pedro Pinto. “A ideia era usar o surf como instrumento de consciencialização na promoção da sustentabilidade”, referiu o cônsul. “Achámos que era um caminho interessante dentro desta lógica de fazer a ponte entre Portugal e a Califórnia, que têm imensas semelhanças”. Com as semelhanças, disse, vêm também desafios comuns. “Um deles é a protecção costeira, outro é a utilização de energias renováveis offshore”, exemplificou. “É algo que vemos cada vez mais com relevância, esta ligação entre Portugal e a Califórnia, e [queremos] também através do surf promover isso”.

Durante a conferência, foi referido o conceito de 'surfonomics', que se debruça sobre a qualidade e impacto económico dos recursos naturais e do surf, e Pedro Pinto considerou que essa é uma evolução visível em Portugal. “Hoje em dia não só se vê muita gente a fazer surf como se veem escolas de surf e há toda uma pequena indústria à volta disso, que beneficia os restaurantes, as pessoas que alugam casas fora”, indicou.  Isso nota-se, por exemplo, no impacto da Nazaré e da sua grande onda. “Eu diria que, a seguir ao Cristiano Ronaldo, é a segunda marca portuguesa mais conhecida no mundo e por isso tem de facto relevância económica”, frisou o cônsul-geral. Sendo a Califórnia uma referência histórica, onde surgiu o surf moderno, a intenção destes eventos é trocar experiências e comparar os dois modelos. “Um mais antigo e muito estabilizado, outro que teve uma progressão muito interessante nos últimos anos e na Europa é líder, que é Portugal”, disse.

Já o presidente da Associação Nacional de Surfistas (ANS), Francisco Rodrigues, considerou que o crescimento da prática e da indústria de surf em Portugal é positivo para o país e contribui para a conservação dos oceanos. “Portugal tem-se posicionado nos últimos anos como um destino de surf”, afirmou o responsável, numa entrevista à Lusa em San Diego. “Não estamos a falar só da prática do surf propriamente dita, há toda uma vida à volta”. Francisco Rodrigues foi um dos oradores convidados para a conferência ‘Iniciativas de sustentabilidade da indústria do surf’, que decorreu no Scripps Institution of Oceanography, e falou sobre a crescente importância do desporto. “Acreditamos que o surf é importante para o país”, afirmou. “Toda a gente reconhece que o surf é uma coisa muito positiva em Portugal”.

O trabalho que a ANS tem desenvolvido, considerou, permite aos surfistas portugueses ganharem mais relevância na sociedade portuguesa e assumirem um papel de protecção nas praias. “Aquilo que nos orgulha é ver surfistas como Tiago Pires, Frederico Morais, Teresa Bonvalot ou Francisca Veselko, que foi campeã do mundo a alguns quilómetros daqui”, sublinhou. “Eles acabam por ser também os naturais embaixadores de Portugal e que têm vindo a ajudar o nosso país”. Francisco Rodrigues explicou que a sua intenção na conferência foi “falar sobre o papel do surf nesta lógica da sustentabilidade e da preservação dos oceanos e por outro lado fazer uma troca de boas práticas entre Portugal e a Califórnia”.

Foi também isso que salientou João Macedo, cofundador da World Surfing Reserves, em entrevista à Lusa à margem da conferência.​​ “A comparação é muito interessante de casos na Califórnia e em Portugal na área da conservação”, considerou. “A temática que eu agarrei foi que a Reserva Mundial de Surf da Ericeira acaba por ser um exemplo muito positivo para todo o mundo de uma ideia que nasceu na Califórnia”.  A classificação como reserva mundial de surf obedece a quatro critérios: as características de surf da zona, incluindo consistência e qualidade das ondas; as características ambientais, como fauna e flora; a cultura de surf local e o envolvimento da comunidade.  A Ericeira foi reconhecida em 2011 com todos estes critérios e João Macedo acredita que outras zonas, como a Nazaré, podem vir a consegui-lo. “O trabalho que estou a fazer é para que a Nazaré alavanque toda a fama da onda e comece a fazer acções de conservação dos oceanos”, indicou o responsável. “É complicado porque é uma comunidade piscatória muito antiga e áreas marinhas protegidas têm sempre um efeito negativo na maneira destas comunidades viverem”, explicou.  

Para João Macedo, há um trabalho a fazer para que a conservação sirva as comunidades e não seja percebida como algo negativo. “A conservação tem de ser algo sustentado em termos humanos”, disse. “Como Portugal é líder na Europa em termos de território marítimo, é uma oportunidade enorme que nós temos, como portugueses, de ter um impacto grande na conservação”, opinou. “Portugal tem todas as características naturais, legais e políticas e cada vez mais também de negócio para ser um epicentro, um líder mundial de conservação e que possa provar, através de casos no concreto”. Até porque, salientou, fazer bem ao planeta “é uma coisa boa também para o negócio”.

Texto: ALVORADA com agência Lusa
Fotografia: Direitos Reservados (arquivo)