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Presidente da Câmara de Óbidos diz que construir o Hospital do Oeste no Bombarral seria um erro e insiste nas Caldas da Rainha

presidente da CM Obidos e novo hospital

O social-democrata Filipe Daniel, presidente da Câmara Municipal de Óbidos, emitiu um comunicado em que critica uma entrevista dada pelo presidente da Assembleia Intermunicipal da OesteCIM - Comunidade Intermunicipal do Oeste, o socialista torriense Rui Prudêncio, onde contesta a posição assumida publicamente pelos autarcas obidense e caldense de colocarem em causa o estudo promovida pela Universidade Nova de Lisboa, que coloca o Bombarral como a melhor localização para o futuro Hospital do Oeste. Filipe Daniel acusa Rui Prudêncio de fazer “numa tentativa desesperada de lançar a dúvida e tentar dividir opiniões entre a população, iludindo-a, embrulhando-se na sua própria história”. “No Carnaval nada parece mal. Mas… há limites!”, diz.

Recorde-se que o estudo encomendado pela OesteCIM à Universidade Nova de Lisboa teve como objectivo escolher a melhor localização para o futuro Hospital do Oeste, tendo como área de referência os 12 concelhos que a integram e, ainda, algumas freguesias do norte do concelho de Mafra que são servidos presentemente pelo Centro Hospitalar do Oeste. A implantação na antiga Quinta do Falcão, junto ao Estádio Municipal do Bombarral e à saída sul da A8, foi a zona escolhida pelos especialistas. Depois de conhecido o estudo, os presidentes de câmara das Caldas e Óbidos vieram a terreiro contestar a sua metodologia e, recentemente, para dar mais consistência à tese de que o futuro hospital terá de ficar entre estes dois concelhos - sendo apontado um terreno junto às oficinas municipais caldenses - juntaram à equação o Município de Rio Maior que, segundo o seu autarca, tem uma parte muito significativa dos seus munícipes a derivar para o hospital público de Caldas e não para o de Santarém.

O ponto da discórdia está na centralidade do futuro Hospital do Oeste. Para Filipe Daniel, numa acusação a Rui Prudêncio que defende a centralização do Bombarral para o equipamento público face ao eixo Torres Vedras - Caldas da Rainha, “mais ridículo é ignorar os concelhos e, acima de tudo, as pessoas de Alcobaça e da Nazaré - cerca de 70 mil habitantes - ao manifestar que Caldas é um extremo, quando diz que “não se pode ter um equipamento de fim de linha em um qualquer extremo”. Contudo, apesar de estarem localizados no limite norte do Oeste, os municípios de Alcobaça e Nazaré não contestaram o resultado do estudo da Universidade Nova e decidiram ‘não alinhar’ com o novo argumentário assumido por Caldas e Óbidos neste processo.

O autarca da vila medieval não tem dúvidas de que, juntamente com o edil Vítor Marques, colocaram com a nova posição conjunta “um travão a um dos maiores erros que se iriam cometer para o próximo século. Uma má localização que, ao que parece, estaria tomada e que, conscientemente, se encontra a receber mais contributos, mais argumentos, mais indicadores, enfim, mais informação do que a distância e o tempo de deslocação (ambos importantes, mas redutores para uma tomada de decisão desta natureza)”. E, adianta, “aquilo que sempre esteve e estará na minha cabeça será o melhor para todos. A localização do novo Hospital do Oeste terá que considerar também a oferta de cuidados de saúde, públicos e privados existentes, e é na localização que Óbidos-Caldas da Rainha propõe que se encontra o vazio nesses cuidados”.

Quanto à reunião que Filipe Daniel e Vítor Marques tiveram no passado dia 14 com o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, onde foram expor ao governante os novos argumentos que, segundo eles, não foram estudados pela Universidade Nova, o autarca obidense saiu mais confiante pela abertura para o diálogo manifestado pelo Governo. “Mas, acima de tudo, pelo que transmitiu, de que a decisão da localização seria política e que a obra estaria a arrancar dentro de dois anos”, refere no comunicado enviado ao ALVORADA. Conclui o autarca que, no seguimento desta reunião, “percebeu-se que a localização teria que ficar junto a um centro mais urbano e que face a este critério apenas tínhamos duas possibilidades: Torres Vedras e Caldas da Rainha-Óbidos. Neste sentido, foi afirmado pelo governante que Torres Vedras está próxima de Lisboa e que Caldas da Rainha-Óbidos não estaria próximo de nada”. E acrescenta: “o princípio da equidade nos cuidados de saúde deve colocar-nos em pé de igualdade no acesso e não tratar de forma discriminatória aqueles que já se encontram sem cuidados de saúde primários, pela distância a que se encontram destes. Foi ainda dirimido mais um conjunto de argumentos, como a proximidade a Lisboa e o seu elevado risco sísmico”.

Filipe Daniel aludiu ainda nesta audiência ministerial à questão de um problema que se colocará a médio-longo prazo, nomeadamente para a possibilidade de haver uma academia/universidade para profissionais de saúde no futuro hospital, ou próximo, algo que será possível no terreno com 60 hectares no concelho das Caldas da Rainha. “A resposta foi de que seria uma hipótese”. O argumento da coesão territorial foi também bem entendido pelo governante, pois falar-se frequentemente disso e depois fazer-se exatamente o contrário, não é coerente”, adiantou. A utilização da Linha do Oeste “pelos mais de dois mil profissionais” para o novo hospital voltou a ser defendido pelos autarcas de Caldas e Óbidos como “uma mais-valia evidente”, apontando o terreno proposto que fica junto a esta via, a par da proximidade ao nó da A8, com ligação à A15 e IP6 (Peniche). Argumentos que, contudo, são igualmente válidos para a localização no Bombarral para o futuro hospital do SNS - Serviço Nacional de Saúde.

Face às notícias vindas a lume de que estaria presente na ocasião em que a OesteCIM entregou o estudo da Universidade Nova ao ministro da Saúde, que ocorreu em Torres Vedras, o autarca desmente: “Nunca lá estive e não fui só eu. Não iria entregar nada sem que me tivesse sido apresentado primeiro”.

Para fazer face ao pedido de apreciação da nova proposta de localização do futuro hospital oestino pelos autarcas de Caldas e Óbidos, o ministro Manuel Pizarro terá acedido a dilatar por mais um mês a decisão final. Assim, em vez de 31 de Março, a nova data limite passou, segundo os dois presidentes de câmara, para 30 de Abril. O Ministério da Saúde não confirmou nem desmentiu esta alteração de prazo, mas continua a pertencer ao grupo de trabalho liderado pela antiga ministra da Saúde, a lourinhanense Ana Jorge, entregar um relatório final para suportar a decisão de Manuel Pizarro. E seja qual for o resultado, os presidentes Filipe Daniel e Vítor Marques comprometeram-se publicamente a respeitar o que for decidido pelo Governo.

Curiosamente, nesta polémica regional os políticos do Bombarral continuam sem se manifestarem publicamente nesta fase do processo do novo hospital do Oeste, entre os quais o presidente da Câmara Municipal, o socialista Ricardo Fernandes, que lidera também a concelhia do partido.

Texto: ALVORADA
Fotografia: CMO