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Município da Lourinhã pretende adquirir ao Estado as antigas instalações do IVV por 280 mil euros

ACL

A Câmara Municipal da Lourinhã chegou finalmente a acordo com o Estado, através da empresa pública ESTAMO - Participações Imobiliárias, SA, para adquirir as antigas instalações do IVV - Instituto da Vinha e do Vinho, localizadas à entrada da vila, por 280 mil euros. A decisão da aquisição deste imóvel, onde estão instaladas a Adega Cooperativa da Lourinhã e a Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação da Lourinhã, consta na ordem de trabalhos da reunião desta sexta-feira do executivo camarário. A aprovação do executivo terá de ser posteriormente ratificada pela Assembleia Municipal da Lourinhã.

Segundo o documento que serve de suporte à decisão da edilidade, “é intenção da autarquia da Lourinhã criar naquele espaço toda uma envolvência ligada à ‘Aguardente DOC Lourinhã’, reforçando a componente de apoio ao envelhecimento e potenciar o aparecimento de novos produtos, instalando uma destilaria pública de aguardente vínica. Paralelamente será desenvolvida uma componente de turismo temático, pedagógico, que em colaboração com os produtores, operadores e as escolas da Região Demarcada, proporcionará aos locais, alunos e visitantes e turistas um conhecimento das potencialidades da produção vitivinícola do Concelho e da região da ‘Aguardente DOC Lourinhã’, dando a conhecer as castas, os métodos de destilação, os utensílios e de promoção da identidade do concelho”.

Para o executivo liderado por João Duarte Carvalho, preservar as antigas instalações do IVV “é contribuir para o sucesso económico de dezenas de pequenos produtores e é contribuir para o desenvolvimento económico do concelho, da região e do país, dando novas perspectivas e oportunidades aos jovens agricultores, vitivinicultores e operadores económicos ligados ao turismo”. Daí que a aquisição destas instalações tem, para a autarquia, “uma importância estratégica para o concelho e acaba por ser uma oportunidade única para adquirir um imóvel que o Município sempre quis adquirir e que é de capital importância”.

O valor pretendido pela empresa público decorreu de avaliações anuais, tendo ainda sido comunicado à Câmara Municipal da Lourinhã de que esta entidade “não pode efectuar alienações por valores abaixo do valor contabilístico, o qual corresponde ao valor da avaliação. Trata-se, portanto, de um valor razoável enquadrado nos valores de mercado praticados no concelho”, considera o município lourinhanense, que defende a utilidade do tipo de edifício a adquirir e as razões de interesse público. A título de sinal, a edilidade entregará 20% do valor total da aquisição, com a assinatura do contrato promessa de compra e venda a efectuar até ao próximo dia 30. O restante em falta será liquidado no dia da escritura de compra e venda a celebrar até 31 de Janeiro de 2020.

Recorde-se que ao longo dos anos foram decorrendo contactos entre a Câmara Municipal da Lourinhã e diversos organismos do Estado, nomeadamente com o IVV, Comissão das Contrapartidas para o Aeroporto na Ota (a cedência do imóvel constou no acordo assinado com o então Governo liderado por José Sócrates) e Ministério de Agricultura, entre outros. Nos últimos tempos as negociações foram feitas com a ESTAMO para que a produção de aguardente DOC Lourinhã continuasse a sua actividade naquele espaço. Tanto mais que não existe no concelho da Lourinhã, para a edilidade, “um espaço adequado ao envelhecimento da quantidade de litros armazenados em cascos de carvalho e castanho que ali se encontram de aguardente vínica”.

Estas instalações têm servido, ao longo de mais de duas décadas, para instalar e desenvolver um espaço vitivinícola de referência à Região Demarcada de Aguardente DOC Lourinhã. A sua construção foi possível através das taxas pagas pelos viticultores, em particular do concelho da Lourinhã, que há época, num concelho essencialmente de produção vinícola, produziam alguns milhões de litros de vinho. Foi naquele espaço que vários trabalhos científicos foram desenvolvidos em colaboração com Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos, de Torres Vedras, na destilação, envelhecimento de aguardentes, teste de materiais, castas, processos técnicos, os quais contribuíram para a melhoria e o conhecimento científico, que fundamentaram a criação da Região Demarcada da Aguardente DOC da Lourinhã. Ali funcionou também o entreposto fiscal da Comissão Vitivinícola Regional da Lourinhã, entretanto extinta, e onde hoje envelhecem dezenas de milhares de litros de aguardente, de dezenas de cooperantes da Adega Cooperativa. Recorde-se que a Região Demarcada de Aguardente DOC Lourinhã é única no país e uma das três da Europa dedicadas exclusivamente à produção de aguardentes vínicas.

Texto: Paulo Ribeiro/ALVORADA
Fotografia: ALVORADA (arquivo)