ZERO considera “inaceitáveis” áreas REN onde nova legislação permitirá construção
- Categoria: Sociedade
- 05/01/2025 13:33
A associação ambientalista ZERO considerou hoje “inaceitáveis” as tipologias de áreas de Reserva Ecológica Nacional (REN) que foram excluídas do novo regime de excepção onde se poderá vir a construir habitação, e alertou para a impermeabilização dos solos.
As áreas estratégicas de infiltração e de protecção e recarga de aquíferos, que são relevantes para a sustentabilidade do ciclo hidrológico terrestre, as áreas de elevado risco de erosão do solo e as áreas de instabilidade de vertentes, que servem para prevenção de riscos naturais, são as tipologias de áreas de REN que, segundo a ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável, “ficaram fora do regime de excepção” que altera o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial e “onde se poderá vir a construir habitação ou ter lugar outros usos complementares”.
“Há em todo o país vastas áreas com estas características que motivaram a sua inclusão na Reserva Ecológica Nacional, cuja preservação é indispensável, e que não tem qualquer sentido serem destruídas/impermeabilizadas”, afirmou a ZERO, em comunicado, considerando que as áreas REN onde legislação permitirá construção "são absolutamente críticas".
A posição desta associação ambientalista surge no âmbito do Relatório do Estado do Ordenamento do Território (REOT) de 2024, elaborado pela Direcção-Geral do Território e que esteve em discussão pública até sexta-feira, dia 3 de Janeiro. O REOT é um instrumento “essencial” para avaliar a implementação do Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT), analisando diferentes áreas, entre elas o solo, realçou a ZERO, referindo que este documento de 2024 destaca a necessidade de preservação dos solos rústicos, revelando que a “área aumentou ligeiramente, em contradição com a pretensão da nova legislação”.
Em comunicado, a associação ambientalista refere que a nova legislação que altera o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (decreto-lei nº 117/2024), permitindo a construção em solos rústicos mediante deliberação municipal, tem recebido “uma forte contestação de diversos especialistas, de vários sectores da sociedade civil e também de organizações não-governamentais como a ZERO”.
O REOT de 2024, segundo a ZERO, afirma que o solo é um recurso natural não renovável essencial para os ecossistemas, sendo crucial preservar a sua integridade, e “a impermeabilização do solo, associada à urbanização, é um dos principais factores de degradação”, que compromete funções como produção de alimentos, regulação do ciclo da água, captura de carbono e suporte à biodiversidade. Entre os dados deste relatório, a associação ambientalista realça que, em 2018, mais de 90% do solo no território continental português permanecia não impermeabilizado, mas em municípios metropolitanos como Porto, Lisboa e Amadora, essa proporção era inferior a 60%, com o Porto a apresentar o menor valor (43%).
Em causa está a classificação de solo como rústico nos Planos Directores Municipais (PDM) e a sua protecção por regimes como a Reserva Agrícola Nacional (RAN) e a Reserva Ecológica Nacional (REN), para preservar áreas aptas para usos agrícolas, florestais e conservação da biodiversidade. Na perspectiva da ZERO, os dados do REOT indicam que “para muitos municípios, nomeadamente aqueles onde as necessidades de habitação são mais prementes, o decreto-lei tem pouca aplicabilidade e, portanto, é dispensável”.
Segundo a associação ambientalista, os mesmos dados referem que, entre 2015 e 2023, 74% dos municípios mantiveram a área de solo rústico inalterada, mas, ao contrário do que se pretende com a nova legislação, 49 municípios expandiram as suas áreas de solo rústico, verificando-se que a área total de solo rústico no território continental aumentou em 17.303 hectares, representando um acréscimo de 0,2%. Quanto ao REOT, apesar de apontar “muito aspectos positivos”, a ZERO considera que há “várias lacunas e oportunidades de melhoria”, referindo que o relatório peca, por exemplo, pela falta de reflexão crítica sobre políticas públicas.
Texto: ALVORADA com agência Lusa