Desabafos: Saltimbancos
- Opinião
- 17/01/2020 11:25
Vinham numa carroça puxada por uma mula e iam anunciando, através dum funil, o evento.
- "Logo à noite, não perca o magnífico espectáculo pelas 21h00. Magia, malabarismos, contorcionista e o famoso palhaço Batatinha. Não perca!".
A moçada corria atrás da carroça e, com a algazarra, mais gente vinha à porta e às janelas para ver o que se passava.
À noite, pelas 21h00, lá estava toda a vila preparada para assistir ao espectáculo: o palco, uma manta estendida no chão, a luz forte dum petromax e o pessoal em volta.
A família de artistas, constituída por pai, mãe e dois filhos, iniciava o espectáculo. O pai era o mestre de cerimónias e o palhaço, a filha, a contorcionista, o filho, o malabarista, e a mãe a ilusionista. Entre cada actuação, um número musical.
Os aplausos e as exclamações de surpresa intercalavam com as gargalhadas das travessuras do palhaço. No final aceitavam o que os espectadores mandassem para cima da manta estendida no chão.
Era assim o circo das vilas e aldeias do interior do país. A televisão ainda não existia. Parece que foi ontem e já lá vão mais de sessenta anos.
João Henrique Farinha