Desabafos: Estórias Curtas II
- Opinião
- 05/06/2020 11:36
Esta coisa de cumprimentar os nossos amigos com os cotovelos (local para os quais nos mandam tossir) não me cabe na cabeça. Nós, os latinos, falamos com as mãos. É como tirar a tromba a um elefante ou as asas aos pássaros.
Fico a pensar nos esquimós, que se cumprimentam esfregando os narizes (kunik). Agora, esfregam o quê?
Porque será que com a máscara ficamos surdos?
Acabámos de descobrir que temos uma mercearia no bairro. E que ao fundo da rua há um excelente parque com árvores frondosas. Passamos lá todos os dias e nem nos tínhamos dado conta.
Também eu não conhecia a minha rua e afinal aqui há quase tudo. Farmácia, comércio, jornais, jardim, restaurante, café.
É o lado bom que o vírus trouxe. Começamos a dar mais valor ao que nos rodeia. O corona fez com que não sejamos como o invejoso que, em vez de sentir prazer com o que tem, sofre com aquilo que os outros têm.
Cumprimentamos (também) com os pés. Para os elevadores e para a tampa do lixo, usamos o cotovelo.
Se a função faz o órgão, qualquer dia nascemos só com o polegar para usar nas mensagens do telemóvel.
João Henrique Farinha