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Ave ameaçada de extinção escolhe a ilha da Berlenga para nidificar

Roque de Castro 1 SPEA

A ilha da Berlenga tem um novo habitante: uma das mais pequenas aves marinhas do nosso país, o roque-de-castro. Uma fêmea desta espécie ameaçada pôs agora um ovo na ilha, anunciou esta terça-feira a SPEA - Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Esta associação acredita que é “graças aos esforços do projecto 'Life Berlengas', que removeu ameaças e criou condições para que esta ave sensível se possa estabelecer na Berlenga”, numa altura em que a ilha pode ser declarada como livre de predadores.

O primeiro ovo de roque-de-castro a ser incubado na Berlenga demonstra o sucesso do projecto 'Life Berlengas'”, garante a SPEA, que trabalha há mais de quatro anos para preservar a biodiversidade e restaurar o ‘habitat’ desta Reserva Natural ao largo de Peniche. “De facto não sabemos se, no passado, o roque-de-castro já se tinha reproduzido na ilha da Berlenga. Mas é seguramente uma notícia que nos deixa a todos muito orgulhosos e satisfeitos com o trabalho desenvolvido” refere Joana Andrade, coordenadora do projecto ‘Life Berlengas’.

Esta pequena ave terá provavelmente sido atraída por sons e cheiros usados como chamariz pela equipa do ‘Life Berlengas’, e encontrou um local ideal para pôr o seu ovo: um ninho artificial construído no âmbito do projecto. Tão ou mais importante é o que a fêmea não encontrou na ilha: predadores.

Predadores como ratos, que chegaram às ilhas ‘à boleia’ de embarcações humanas, ou gatos levados como animais de estimação, que dizimam as populações de aves marinhas que, ao longo de milhares de anos, evoluíram sem predadores por perto. O impacto é tal que o roque-de-castro já só nidifica em ilhas e ilhéus desabitados ou sem predadores. “Graças ao trabalho da equipa do 'Life Berlengas', a ilha da Berlenga é agora uma dessas ilhas livres de predadores”, garante a associação ambientalista em comunicado remetido ao ALVORADA.

Ter esta espécie a nidificar na Berlenga é uma prova de sucesso, sem dúvida, mas manter este sucesso depende de todos: não só das equipas que trabalham no terreno, mas também daqueles que aí desenvolvem a sua atividade e dos milhares de pessoas que visitam as Berlengas todos os anos”, diz Joana Andrade.

Para garantir que uma visita às Berlengas não põe em risco o roque-de-castro, as cagarras e outras espécies ameaçadas que habitam esta Reserva Natural, os visitantes e utilizadores da ilha podem consultar na página oficial do projecto ‘Life Berlengas’ - www.berlengas.eu -, nos quiosques das empresas marítimo-turísticas em Peniche, nas embarcações e na própria ilha indicações dos cuidados a ter. Por exemplo, deverão ter atenção à bagagem e aos materiais que são transportados para ilha, que devem ser sempre verificados e acondicionados previamente.

Por agora, a equipa do 'Life Berlengas' vai seguir de perto o desenvolvimento deste novo habitante, e vigiar a ilha durante os próximos meses, na esperança de que mais roques-de-castro visitem também a Berlenga e decidam dar uso a mais ninhos artificiais.

O projecto ‘Life Berlengas’ visa conservar a biodiversidade do arquipélago das Berlengas. Coordenado pela SPEA, o projecto tem como parceiros o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), Município de  Peniche, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo ainda a Escola Superior de Tecnologia e do Mar do Instituto Politécnico de Leiria como observador. O projecto, que decorre de 2014 a 2019, é co-financiado pelo Programa LIFE+ da União Europeia e pelo Fundo Ambiental.

Fotografia: Direitos Reservados