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Óbito/Eduardo Gageiro: Assembleia Municipal de Torres Vedras aprova voto de pesar

Eduardo gageiro CMTV

A Assembleia Municipal de Torres Vedras aprovou por unanimidade, na noite de terça-feira, um voto de pesar pela morte do fotojornalista Eduardo Gageiro, que morreu este mês aos 90 anos.

Com este voto, a Assembleia Municipal de Torres Vedras presta homenagem à sua memória e endereça à família enlutada o seu mais profundo pesar”, lê-se no voto de pesar, que recorda o percurso do fotojornalista.

No início deste ano, o município adquiriu por 250 mil euros o acervo fotográfico de Gageiro, depois de ter gastado 103 mil euros na sua guarda e conservação, os quais foram abatidos ao valor da aquisição.

Desse acervo organizou a exposição 'Pela Lente da Liberdade', inaugurada no passado dia 25 de Abril na Galeria Municipal de Torres Vedras, onde pode ser vista até 13 de Setembro.

Presente na inauguração da mostra, Eduardo Gageiro aproveitou para partilhar algumas das histórias de cada uma das fotografias expostas, entre as quais episódios em que foi preso, pelas imagens 'inconvenientes' ao regime de ditadura.

A autarquia do distrito de Lisboa anunciou também a intenção de lhe dedicar uma casa-museu.

O fotojornalista publicou a sua primeira fotografia aos 12 anos no Diário de Notícias, logo em primeira página, sinal precoce do talento singular do jovem natural de Sacavém, Lisboa, onde nasceu a 16 de Fevereiro de 1935.

A fotografia de Gageiro nasceu na rua, entre operários fabris e artistas plásticos, ambientes que marcaram o seu olhar profundamente humanista, como sempre foi reconhecido.

Em 1957 iniciou-se profissionalmente no Diário Ilustrado e, pouco depois, colaborava com títulos de referência como O Século Ilustrado, Eva, Almanaque e também a Match Magazine.

A cidade, o trabalho, o quotidiano e os grandes momentos históricos cruzaram-se na sua lente de repórter de imagem com sensibilidade e rigor documental.

Em 1975, venceu o World Press Photo com uma fotografia do general António de Spínola. Para a história ficou também a imagem de um operário da Lisnave em greve, ferido pela Guarda Nacional Republicana, que se tornou símbolo da luta dos trabalhadores portugueses.

O trabalho pelo qual Eduardo Gageiro ficou mais conhecido, no entanto, surgiu um ano antes, nos acontecimentos da Revolução do 25 de Abril, cujas imagens marcaram as memórias de portugueses de várias gerações e constituem um documento histórico do país.

Eduardo Gageiro foi um dos primeiros fotojornalistas a chegar aos cenários de Abril, fixando as imagens do encontro dos militares no Terreiro do Paço, o assalto à sede da PIDE e o momento em que o capitão Salgueiro Maia percebeu que a revolução triunfara.

O fotógrafo captou o instante decisivo do 25 de Abril, quando o capitão Salgueiro Maia regressava da rua do Arsenal, onde dois militares subalternos tinham acabado de desobedecer ao brigadeiro leal ao regime, recusando-se a disparar sobre as tropas revoltosas.

Salgueiro Maia, que mais tarde disse ter sido esse o momento mais belo de insubordinação a que assistira naquele dia, surge na imagem a morder o lábio para não chorar, ao perceber que a revolução tinha triunfado, como relatou Gageiro em entrevista à agência Lusa em 2014.

Gageiro fez a foto, mas só anos mais tarde a percebeu, quando Salgueiro Maia lhe confessou o que representava aquele trejeito da boca: “um momento de grande felicidade, em que conteve a custo a emoção”.

Vinha a morder o lábio para não chorar, recordou Gageiro à Lusa, em 2014. Só me explicou quando me visitou em casa, em Sacavém, em 1986, e me ofereceu o relatório da Operação Fim de Regime, um documento histórico no qual Salgueiro Maia escreveu, em dedicatória, na capa, ao primeiro jornalista que, na madrugada do 25 de Abril, aderiu aos revoltosos”.

Como testemunha da Revolução dos Cravos, Gageiro esteve nas ruas nos dias da liberdade, captando outras imagens históricas, como a rendição de Marcelo Caetano, o ambiente de alegria popular que se viveu na altura e a retirada da fotografia de Salazar das paredes da sede da PIDE.

Texto: ALVORADA com agência Lusa
Fotografia: Direitos Reservados (arquivo)