Estudo identifica mudanças nas rotas comerciais pré-históricas na região Oeste
- Oeste
- 13/12/2024 12:25
Um estudo publicado hoje numa revista científica mostra como mudaram rotas comerciais pré-históricas em Portugal, que no Calcolítico se centravam no eixo Torres Vedras - Arruda dos Vinhos e na Idade do Bronze passaram a focar-se no estuário do Tejo.
O estudo analisa as redes de mobilidade das comunidades pré-históricas durante os períodos do Calcolítico e da Idade do Bronze Final, no âmbito de uma investigação que juntou arqueólogos do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ) e da Universidad Autónoma de Madrid (Espanha). “O que este artigo se propôs foi analisar as redes de mobilidade das comunidades pré-históricas na 'Península de Lisboa', ou seja, neste território da Estremadura em dois picos da pré-história recente”, disse à agência Lusa o principal autor, o arqueólogo André Texugo.
Utilizando técnicas de análise geográfica, como o modelo de 'Least Cost Path' (LCP) [percursos de menor custo] e o 'Tobler hiking function' [medidor da velocidade de deslocação] os autores do estudo identificaram padrões de movimentação e conectividade que reflectem transformações significativas ao longo do tempo, concluindo que em ambos os períodos “há eixos que saltam à vista”. Nomeadamente, no período Calcolítico “a rota Torres Vedras - Alenquer - Arruda dos Vinhos, que no fundo dá corpo a um conjunto de sítios que pareciam que estavam isolados, como o Penedo, a Fórnea e a Porticheira (todos na zona de Runa) que tinham um conjunto de materiais importantes mas que os arqueólogos não sabiam relacionar, porque estavam no interior em relação ao mar e em relação ao Tejo”, admitiu André Texugo.
Este corredor era um ponto estratégico de interacção durante o Calcolítico, facilitando o comércio de bens e a troca cultural, mas, concluiu o estudo, na Idade do Bronze Final, as rotas tornaram-se mais focadas em áreas junto ao estuário do Tejo. “Essas rotas passaram a ser mais junto à zona de Loures, Odivelas e Lisboa e até existe um ponto muito interessante em Vila Franca de Xira”, explicou o arqueólogo, frisando que “as rotas mudaram, passaram a ser muito mais concentradas e parecem evidenciar até uma hierarquização destas redes de mobilidade”.
De acordo com André Texugo "a investigação permite compreender melhor como o ambiente e as potenciais escolhas humanas moldaram a organização territorial das comunidades pré-históricas”, ao mesmo tempo que destaca “o impacto das características naturais, como rios e terrenos elevados, na formação destas redes, e sugere a existência de pontos de convergência que poderão ter funcionado como centros de troca e interacção cultural”.
A pesquisa, realizada em colaboração com o Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ), a ARCUS - Cooperativa do Património Cultural, e a Universidad Autónoma de Madrid, “abre caminho para novas abordagens metodológicas em arqueologia”, afirmando-se os seus autores “abertos à discussão com todos os investigadores” que possam trazer “novos desenvolvimentos e respostas” à pesquisa efectuada”. O objectivo dos autores é agora “alargar esta pesquisa a outras zonas de Portugal”, investigando como os povos antigos foram desafiados pelas travessias de grandes rios e pela orografia das regiões que atravessavam. Embora o estudo se foque no passado, “há paralelos interessantes com o presente, como a gestão de recursos e a organização territorial”, afirmou André Texugo, acrescentado que “compreender estas redes ajuda a reflectir sobre a relação dos povos com o território e os recursos naturais”.
O artigo completo pode ser lido no Journal of Archaeological Science.
Texto: ALVORADA com agência Lusa