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‘A Colónia’ de Marco Martins vai ser um filme com rodagem nas Caldas da Rainha prevista para 2025

Parque D Carlos I Caldas da Rainh

O realizador Marco Martins revelou à agência Lusa que irá dirigir “um filme de época” sobre a colónia de férias criada por um grupo de cidadãos, em 1972, nas Caldas da Rainha, para filhos de presos políticos da ditadura. O filme “vai ser rodado no próximo ano”, “em princípio no Verão de 2025”, e como vai ser um filme de época, “será interpretado por crianças entre os sete e os 14 anos” à semelhança das que estiveram naquela colónia.

O encenador e realizador Marco Martins falava à Lusa à margem de um ensaio da peça 'A Colónia', a estrear-se na quinta-feira, na Culturgest, em Lisboa, que conta com presença e testemunhos de filhos de opositores, perseguidos pela PIDE, que puderam viver essas duas semanas de férias, em Julho de 1972, dois anos antes da queda da ditadura.

O filme irá centrar-se “muito sobre a história da colónia, em particular numa das pessoas que lá esteve: Manuela Canais Rocha, que viveu na clandestinidade com os pais até aos seis anos, até muito tarde, [...] e que tem uma vida muito particular. Tenho estado muito dedicado à vida da Manuela. Na verdade, a peça tem uma grande ênfase na biografia particular dessa criança”, frisou.

Manuela Canais Rocha é filha do historiador Francisco Canais Rocha, combatente antifascista, um dos mais destacados opositores à ditadura no distrito de Santarém, primeiro coordenador da CGTP-Intersindical depois do 25 de Abril de 1974. Canais Rocha foi preso pela PIDE em 1958 e 1968. Professora de Geografia no Barreiro, Manuela Canais Rocha tem "actualmente uma vida socialmente normal”, por oposição ao tempo em que viveu com os pais na clandestinidade.

A peça 'A Colónia' de Marco Martins baseia-se na reportagem da jornalista Joana Pereira Bastos 'As férias da Liberdade', publicada na revista do Expresso, com a qual venceu o Prémio Gazeta de Imprensa em 2022. A reportagem centra-se em duas semanas, entre Julho e Agosto de 1972, numa colónia de férias criada nas Caldas da Rainha, onde 18 crianças, “brutalmente marcadas pela prisão dos pais e com um passado de clandestinidade, sofrimento e solidão, aprenderam, pela primeira vez, a brincar e a ser livres”, escreveu a jornalista na reportagem. Na base da criação da colónia esteve a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, criada a 31 de Dezembro de 1969, por um grupo de cidadãos que pretendia responsabilizar o Governo e alertar a opinião pública portuguesa e internacional para a reiterada violação de direitos e liberdades fundamentais, pela PIDE/DGS, que prendia e torturava pessoas pelo simples crime de delito de pensamento.

O engenheiro e antigo presidente do Centro Católico Português, Francisco Lino Neto, o padre José da Felicidade Alves, o professor universitário Luís Lindley Cintra, a ilustradora Maria Keil, o jornalista Raul Rego, as escritoras Ilse Losa e Sophia de Mello Breyner Andresen, o actor Rogério Paulo e o engenheiro agrónomo Henrique de Barros, futuro presidente da Assembleia Constituinte, entre outros, faziam parte da comissão que, com a Amnistia Internacional recém-criada, reuniu 18 crianças na colónia de férias nesta cidade da região Oeste.

Na colónia trabalharam alguns católicos progressistas, como Catalina Pestana, que viria a ser provedora da Casa Pia, Felicidade Alves e Conceição Lopes, ex-monitora que entra na peça de Marco Martins. A “preocupação de todas”, como Conceição Lopes disse à Lusa, à margem de um ensaio da peça, era “impedir que a PIDE entrasse no espaço, apesar de sempre ter rondado e vigiado o local”. O objectivo era "não perturbar o sossego das crianças", fazer tudo para que se sentissem felizes, "tentando, pelo menos, minimizar os traumas que todas apresentavam”. Conceição Lopes, actualmente com 73 anos, escreveu um diário desses dias como monitora da colónia, que também foi um dos suportes da peça de Marco Martins.

'A Colónia', a peça, estreia-se na quinta-feira na Culturgest, em Lisboa, onde ficará em cena até dia 14. Em Janeiro estará no palco do Teatro Nacional S. João, no Porto. O filme, que se encontra em fase de pré-produção, tem um apoio de 700 mil euros aprovado pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual, segundo a página de projectos em curso deste organismo.

Texto: ALVORADA com agência Lusa
Fotografia: Paulo Ribeiro/ALVORADA (arquivo)