Bombeiros caldenses acusam hospital de dificultar assistência por fecho da urgência obstétrica das Caldas mas ULS do Oeste nega
- Oeste
- 05/08/2024 21:56
Uma mulher com hemorragias após um aborto espontâneo viu esta manhã negada assistência no hospital das Caldas da Rainha, cuja urgência obstétrica estava encerrada, e apenas foi atendida após insistência do CODU e dos bombeiros, denunciou o comandante da corporação caldense.
Em declarações à Lusa, o comandante dos Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha, Nelson Cruz, explicou que às 7h21 uma ambulância da corporação foi accionada pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) para socorrer uma mulher, de 32 anos, que estava frente à urgência do hospital público dentro do carro. “A senhora tinha tido um aborto espontâneo, tinha o feto com ela dentro de um saco e estava com muitas hemorragias, dentro do veículo particular”, contou o responsável.
Chegados ao local, os bombeiros passaram informações sobre estado da mulher ao CODU e disseram ao marido para ir pedir ajuda dentro do hospital, embora o homem já o tivesse feito assim que chegaram. Nelson Cruz relatou ainda que “o CODU deu a possibilidade de irem para a Maternidade Bissaya Barreto, em Coimbra, mas o colega alertou que a senhora estava com uma hemorragia tão abundante que não ia ser fácil chegarem […] em segurança sem terem um apoio diferenciado, porque são 130 quilómetros, mais de uma hora de caminho”. “Se estamos perante uma pessoa que acaba de ter um aborto e que está com uma hemorragia abundante, naturalmente que não conseguimos dentro de uma ambulância controlar uma hemorragia interna e essa vítima, em pouco tempo, a perder sangue dessa maneira, tem a vida em causa”, sublinhou. Após insistência dos bombeiros junto do CODU e do centro de orientação com o hospital, ao fim de mais de meia hora, a mulher foi atendida por uma médica.
Este caso foi revelado hoje ao início da tarde pela TVI, que relatou que “a mulher chegou à urgência já com o feto morto e a perder sangue, mas foi obrigada a ligar para o 112 a pedir socorro”. “Só depois da chegada dos bombeiros, e após meia hora de contactos, é que o hospital aceitou dar-lhe assistência”, indicou a TVI.
Em comunicado, a ULS - Unidade Local de Saúde do Oeste confirmou que a urgência de ginecologia e obstetrícia das Caldas da Rainha “não estava a funcionar”, mas negou que a unidade hospitalar tenha recusado atender a utente. “Temos registo que a utente apenas entrou no hospital às 8h04 de hoje, tendo sido de imediato admitida. Em momento algum foi recusada a sua admissão, nem temos registo de várias insistências para admissão”, esclareceu a instituição presidida por Elsa Baião.
Confrontado com este esclarecimento, o comandante da corporação dos bombeiros das Caldas da Rainha acusou a ULS Oeste de “faltar à verdade”, argumentando que “se a urgência estava fechada, não há registo na admissão de doentes”.
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) indicou à Lusa que o CODU recebeu uma chamada às 7h17 e accionou a ambulância às 7h21, tendo recebido pelas 7h33 dados da tripulação do veículo de socorro. Face aos constrangimentos da urgência de ginecologia e obstetrícia das Caldas da Rainha, “o CODU contactou o mesmo hospital para que a utente pudesse ser admitida e avaliada e se determinar se existiam condições para o transporte para Coimbra”, tendo a mulher sido observada por uma médica obstetra, referiu o INEM. Ainda segundo o INEM, o CODU informou os bombeiros da decisão pelas 7h50, tendo recebido novo contacto dos bombeiros às 8h27 a informar que a utente tinha sido admitida. Segundo o Jornal de Notícias e a rádio Observador, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) abriu um inquérito ao caso dado o alarme social que este caso está suscitar.
Texto: ALVORADA com agência Lusa