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Covid-19: Presidente da Junta de Freguesia de Reguengo Grande envolvida em caso de vacinação polémica

Centro Social Reguengo Grande

A presidente da Junta de Freguesia Ana Barros foi vacinada contra a Covid-19 na qualidade de funcionária administrativa do Centro Social e Paroquial do Reguengo Grande e, segundo a própria confirmou ao ‘Observador’, sugeriu o marido à enfermeira do Centro de Saúde da Lourinhã para ser vacinado com uma sobra das vacinas. A autarca fez a sugestão pelo facto do marido - Bruno Santos, professor e ex-director do Agrupamento de Escolas da Lourinhã - ter doença crónica. Confrontada pelo jornal diário ‘online’, esta quarta-feira, confessa estar arrependida e garante que não indicou o nome dos tios, com cerca de 90 anos, que foram também vacinados na ocasião com as sobras da vacinação. “Hoje, certamente não o faria”, disse.

Segundo conta o ‘Observador’, “quando terminou a vacinação prevista no lar, que incluiu 24 utentes e 43 profissionais, sobraram quatro doses, por diferentes motivos, levantando-se a questão do que fazer com elas”. Num dos casos, a vacina foi administrada numa enfermeira do Centro de Saúde, que estava a participar no processo de vacinação. Outras duas pessoas, por não haver nomes a dar, “foram indicadas pela enfermeira”, garante Ana Isabel Barros, apesar de serem familiares. “E a outra fui eu que sugeri, o meu marido, por ter doença crónica, de foro respiratório, com tratamento de ventiloterapia diária”. Ana Isabel Barros garante, segundo o jornal, que tudo se passou perante a pressão de não desperdiçar as vacinas, porque “tinham de ser utilizadas num curto espaço de tempo” em utentes do Reguengo Grande “que preenchessem os requisitos da DGS”. Sustenta ainda que“tudo foi validado pelo SNS”, uma vez que a decisão foi tomada pela enfermeira do Centro de Saúde, que “ligou para a chefe”, garantindo assim que a decisão foi coordenada com a hierarquia.

Confrontado com esta situação, o Pe. Pedro Tavares, que preside ao Centro Paroquial e Social de Reguengo Grande, afiança, segundo o jornal, que a direcção do lar só há alguns dias teve conhecimento que houve pessoas externas a receber a vacina contra a Covid-19. E adianta que, neste momento, o caso está a ser avaliado internamente. “Estamos num tempo difícil e não nos podemos armar todos em patrões e acharmos que todos nós podemos fazer como nós achamos”, considera, adiantando que “penso que aqui a funcionária poderá ter misturado um bocadinho os seus papéis”. “A funcionária em questão, administrativa, não tinha autoridade para agir em nome da instituição. Portanto, a instituição aqui não tem nada a ver com aquelas quatro vacinas que sobraram. Coube depois à enfermeira responsável pela administração da vacina, e com os seus superiores hierárquicos do Centro de Saúde da Lourinhã, perceberem quem é que devia ou não ser vacinado”, sublinhou ainda o Pe. Pedro Tavares ao ‘Observador’.

As quatro vacinas sobraram por diferentes motivos, de acordo com o Pe. Pedro Tavares: chegou uma dose a mais do SNS; uma funcionária faltou; havia ainda uma utente que estava internada e não chegou a tempo do processo de vacinação; e uma enfermeira da instituição que tinha tido Covid-19 há pouco tempo não preenchia os requisitos para ser vacinada.

À vacinação neste lar e nos restantes no concelho assistiram dois bombeiros da Lourinhã, mas nenhum elemento da corporação foi ainda vacinado, confirmou hoje o comandante Carlos Pereira à agência Lusa. Confrontada, Ana Isabel Barros esclareceu que "a enfermeira indicou os dois bombeiros, mas não obteve autorização superior".

Questionado pela agência Lusa, o director do Agrupamento de Centros de Saúde Oeste Sul, António Martins, remeteu esclarecimentos para a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT). A ARSLVT recusou prestar informações, alegando que aguarda "o resultado das auditorias promovidas pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde, assim como as investigações do Ministério Público".

Os casos de vacinação indevida em Portugal continuam a aumentar e a provocar demissões, incluindo a do coordenador da ‘task force' para o Plano de Vacinação contra a Covid-19, Francisco Ramos, que renunciou ao cargo após detectar irregularidades no processo de selecção de profissional de saúde no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, do qual é presidente da comissão executiva. Na segunda-feira, a Procuradoria-Geral da República confirmou à Lusa que o Ministério Público já instaurou inquéritos relativamente "a alguns dos casos vindos a público, desde logo os respeitantes à Segurança Social de Setúbal, ao INEM de Lisboa e ao INEM do Porto". Na sexta-feira, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) tinha anunciado que vai verificar o cumprimento das normas e orientações aplicáveis ao processo de administração da vacina contra a Covid-19. Já durante esta tarde, o Ministério Público anunciou que delegou na Polícia Judiciária a investigação de irregularidades com o plano de vacinação contra a Covid-19 e na sequência da instauração de diversos inquéritos.

Texto: ALVORADA com Observador e agência Lusa.
Fotografia: Direitos Reservados