A mudança necessária!
A nossa sociedade ocidental precisa de pessoas que acreditem e vivam os valores fundamentais da humanidade. Num tempo em que são constantes as notícias de corrupção, abuso de poder, práticas ilícitas e muitas outras misérias praticadas numa lógica de impunidade assustadora, é urgente uma verdadeira conversão de mentalidade e de comportamentos. Este fenómeno não pode ficar apenas numa lógica de notícia que se mantém actual enquanto não aparece outro caso do mesmo teor ou pior.
Os humoristas fazem humor com o ridículo da situação, os comentadores falam de cenários, e até as empresas se servem do escândalo para fazerem campanhas de publicidade, mas a verdade é que estas situações são muitas vezes encaradas com uma perigosa normalidade. A banalização do mal tem terríveis consequências na forma como vivemos uns com os outros, e nas opções que tomamos, porque o horizonte passa a ser apenas o bem próprio sem olhar a meios ou consequências.
Estas realidades são como um cancro social que mina a integridade das instituições, corroendo a confiança que deveria existir entre governantes e os que os elegem. Quando os primeiros sucumbem à ganância, comprometem não apenas a eficácia das estruturas governamentais, mas também abalam a confiança na capacidade da humanidade de construir um sistema justo e equitativo. A luta contra esta degradação ética do sistema social não é apenas um desafio político, mas uma interpelação fortíssima para restaurar a moral colectiva, e reconstruir a esperança num futuro mais íntegro.
O compromisso de quem se considera “pessoa de bem” passa por não pactuar com este ambiente de iniquidade versus impunidade, e estar disponível para lutar com todas as suas capacidades na prossecução do que verdadeiramente importa para o bem comum. A falta de valores morais de alguns não são o critério para orientarmos a nossa existência. Ao longo da história sempre existiram momentos muito tristes em que o homem mostrou o seu lado mais negro, mas também aí surgiram outros que se tornaram verdadeiros faróis nas tempestades do mal. Homens e mulheres que não se resignaram ao mal, mas aceitaram fazer da sua vida um testemunho de algo maior.
Um dia, perguntaram à Madre Teresa de Calcutá sobre o que ela mudaria na Igreja, caso ela pudesse. A santa pensou por um momento e respondeu com decisão: “Eu mudava-me a mim mesma!”. Ao mudar a sua vida ela ajudou a que muitos outros acreditassem que podiam fazer o mesmo. São Josemaría Escrivá, seu contemporâneo, escreveu: “Estas crises mundiais são crises de santos”. Toda a sua vida foi a de ajudar que os cristãos não tivessem medo de viver a santidade de Deus onde quer que se encontrassem. E de facto é assim: os momentos em que a Igreja católica mais cresceu foram aqueles em que mais surgiram os apaixonados por Deus!
Talvez seja esta a mudança mais urgente: a nossa. Importa cada um reconhecer o que está ao seu alcance fazer e pode mudar no sentido de contribuir para a edificação de uma sociedade justa e fraterna. Não vivemos de utopias, nem na ilusão que o mal vai desaparecer de forma automática, porque esse será sempre o nosso combate para a vida toda. É verdade que nós não nos mudamos nem aos outros ‘por decreto’, mas podemos começar por exercitar a nossa vontade todos os dias, e mesmo quando falhamos ser perseverantes em continuar.
O nosso tempo está repleto de desafios, realidades complexas, ambiguidades assustadoras, conflitos mundiais sem aparente resolução, uma terrível colonização ideológica que atenta contar a liberdade de todos a começar nas crianças. Por tudo isto importa aprendermos a cultivar a confiança sem desânimo, o olhar da esperança e a criatividade do amor.
Em 2011 o Papa Bento falando aos jovens disse-nos a todos: «Queridos amigos, diz o Senhor: “Eu sou a luz do mundo; vós sois a luz do mundo”. É uma coisa misteriosa e magnífica que Jesus tenha dito de Si próprio e de cada um de nós a mesma coisa, ou seja, que “somos luz”. Queridos amigos, Cristo não se interessa tanto de quantas vezes vacilastes e caístes na vida, como sobretudo de quantas vezes vos ergueste. Não exige ações extraordinárias, mas quer que a sua luz brilhe em vós. Não vos chama porque sois bons e perfeitos, mas porque Ele é bom e quer tornar-vos seus amigos. Não tenhais medo de poder perder alguma coisa, ficando, no fim, por assim dizer de mãos vazias. Tende a coragem de empenhar os vossos talentos e os vossos dotes pelo Reino de Deus e de vos dar a vós mesmos - como a cera da vela -, para que o Senhor ilumine, por vosso meio, a escuridão. Sabei ousar ser santos ardorosos, em cujos olhos e coração brilha o amor de Cristo e que, deste modo, trazem luz ao mundo.»