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O Amor infinito do nosso Amigo

A Páscoa de Jesus é a manifestação definitiva do Amor de Deus. Ele mesmo o afirma: “Deus amou tanto o mundo que lhe entregou o seu Filho Unigénito.” (Jo 3, 16) É este superlativo divino que nos enche de Vida, dá a dimensão de plenitude para a qual fomos criados, que está inscrita desde sempre no nosso coração e no mais profundo do nosso ser. A nossa existência está vocacionada para a eternidade. Deus criou-nos para o paraíso do qual fomos privados pela mentira sedutora do pecado, mas do qual fomos redimidos por Jesus pelo dom gratuito da sua Vida.

A cruz de Jesus mostra o alcance atroz do mal que mata o autor da vida ao mesmo tempo que é, para quem acredita, o sinal maravilhoso do Amor de Deus, e a fonte inesgotável de vida, que na Igreja recebemos por meio dos sacramentos. O mistério pascal de Cristo, a sua paixão morte e ressurreição, projecta-nos para o desígnio salvífico de Deus de libertar toda a humanidade da condenação da morte e envolver-nos na Luz que não tem fim.

Hoje quero percorrer estes dias centrais na vida do cristão, a semana das semanas, santa porque de novo o céu se abre para nós. Depois da entrada triunfante em Jerusalém onde é aclamado como o Messias anunciado pelo profeta: «Eis que o teu rei vem a ti; Ele é justo e vitorioso; vem, humilde, montado num jumento, sobre um jumentinho, filho de uma jumenta» (Zac 9,9), a celebração inicia-se à volta de uma mesa onde Jesus dá pleno cumprimento à História de Salvação que Deus tinha feito com este povo de escravos. Ele é o verdadeiro Pão descido do Céu que dá a Vida ao mundo e que nos sustenta na nossa peregrinação terrestre até bebermos na eternidade do cálice da alegria que não tem fim.

À volta desta mesa acontece toda a dimensão trágica da nossa condição humana no conhecimento que o Senhor tem de quem O nega, O entrega e de todos que O abandonam na hora da aflição. Simultaneamente, Ele revela o sentido mais profundo da cruz, o Amor até ao fim, ao lavar os pés a quem não é digno. Tudo isto é a manifestação da sua relação de confiança com o Pai e de como se prepara para o combate que trava com o diabo no jardim das Oliveiras: «Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres.» (Mc 14, 36)

A prisão e a condenação de Jesus mostram o quanto avassalador é o poder do mal, como as injustiças acontecem sem nexo, com uma brutalidade impressionante que até um castigo correctivo como a flagelação se converte no primeiro dos terríveis martírios que o filho de Maria aceitou sofrer por nós, porque como Ele mesmo ensina: «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos.» (Jo 15, 13) Na paixão de Jesus se inspira a palavra de São Paulo que é o fundamento da nossa esperança, e a razão de buscarmos em Jesus o perdão dos nossos pecados, a reconciliação com Deus e com os nossos irmãos «Onde abundou o pecado, superabundou a graça» (Rm 5, 20).

O caminho até ao Calvário revela-nos como jamais estamos sós, Jesus uniu-se a nós para sempre, para que nós vivamos a dureza a vida com Ele e recebamos a recompensa do justo. «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.» (Mt 11, 28-30)

A Cruz de Jesus, verdadeira Árvore da Vida e Porta do Paraíso, permite-nos conhecer o Filho de Deus que faz novas todas as coisas, porque ao morrer destruiu o poder da morte, ao ser elevado no madeiro Ele precipitou no inferno o pai da mentira, «porque forte como a morte é o amor,… e as águas caudalosas não conseguirão apagar o fogo do amor, nem as torrentes o podem submergir.» (Ct 8,6-7) Olhemos a Mãe, Senhora da Piedade, que recebe em seus braços o corpo do seu Filho morto por amor e deixemo-nos envolver por esta dor repleta de esperança de que a última Palavra seria sempre a do Pai.

O túmulo novo onde é colocado o corpo do esposo será para sempre o tálamo onde a Igreja como esposa amada vai celebrar o mistério de um novo nascimento, das trevas para a luz, da morte para a vida. A Páscoa mostra-nos o Céu, vence toda tristeza, ensina-nos a amar, a cumprir plenamente o desígnio da nossa existência. Deixemo-nos amar pelo Senhor, nosso amigo, que tanto nos ama, e façamos deste amor a razão sempre nova do nosso viver. Santa Páscoa.

Pe. Ricardo Franco
Edição 1365 - 15 de Março de 2024