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O tempo favorável!

É este o tempo favorável.” (1 Cor 6, 2b) Os cristãos escutam esta Palavra no início da Quaresma, na celebração de Quarta-Feira de Cinzas, como convite a viverem os quarenta dias até à celebração da Páscoa de forma séria e autêntica para se encontrarem com Deus, Senhor da Vida e da História. No quotidiano da existência muitas coisas vão ficando sem resolução, sombras vão roubando a alegria da relação, a fragilidade própria e a dos outros dificulta o olhar de esperança no futuro. A verdade é que necessitamos de ser curados pela purificação do supérfluo e a libertação das escravidões da mentira do pecado.

Os exercícios quaresmais de penitência são os meios, que Jesus ensina no evangelho, favoráveis a uma maior intimidade de amor com Deus, o único que nos salva. O jejum, a esmola e a oração permitem um renunciar a si mesmo, por amor ao Senhor, que capacita para uma vida mais plena e profícua. No início do seu pontificado o Papa Bento XVI afirmou com clareza: «Lutar contra o mal, contra qualquer forma de egoísmo e de ódio, e morrer para si mesmos para viver em Deus é o itinerário ascético que cada discípulo de Jesus está chamado a percorrer com humildade e paciência, com generosidade e perseverança.»

A Páscoa revela-nos a prodigiosa misericórdia de Deus, manifestada do dom do seu Filho amado na Cruz, e é para esta meta que somos chamados a caminhar deixando para trás tudo o que não nos interessa e impede de nos unirmos inteiramente a Ele. Anos mais tarde assim nos lembrava Bento XVI: «A Quaresma amplia o nosso horizonte, orienta-nos para a vida eterna. Estamos em peregrinação nesta terra, “não temos aqui uma cidade permanente, mas vamos em busca da futura(Hb 13, 14). A Quaresma faz compreender a relatividade dos bens desta terra e assim torna-nos capazes de fazer as renúncias necessárias, livres para realizar o bem. Abramos a terra à luz do Céu, à presença de Deus no meio de nós.»

Certamente não é fácil nem automático este renunciar a si mesmo, o esforço ascético de não fazer a vontade própria, a perseverança nos propósitos de mudança, mas é essencial que o desejemos e acreditemos que são fundamentais para que a nossa existência tenha sentido. Ouçamos o Papa Francisco: «Deus não Se cansou de nós. Acolhamos a Quaresma como o tempo forte em que a sua Palavra nos é novamente dirigida: «Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão (Ex 20, 2). É tempo de conversão, tempo de liberdade.»

É esta certeza de sermos amados por Deus que nos capacita e educa, por isso, continua o Santo Padre, «É tempo de agir e, na Quaresma, agir é também parar: parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano em presença do irmão ferido. O amor de Deus e o do próximo formam um único amor. Não ter outros deuses é parar na presença de Deus, junto da carne do próximo. Por isso, oração, esmola e jejum não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: lancemos fora os ídolos que nos tornam pesados, fora os apegos que nos aprisionam. Então o coração atrofiado e isolado despertará. Para isso há que diminuir a velocidade e parar. Assim a dimensão contemplativa da vida, que a Quaresma nos fará reencontrar, mobilizará novas energias.» 

A conversão quaresmal levar-nos-á à experiência belíssima do perdão, da novidade do Amor de Deus que nos reconstrói, à experiência pascal de estar morto e voltar à vida. A existência do homem sem a misericórdia de Deus é um cemitério de angústias e misérias, de recordações e ressentimentos sem solução, de abismos de dor e frustração, etc… Este tempo favorável ajudar-nos-á pela acção da graça de Deus na nossa vontade de mudança a fazer caminho do êxodo pessoal onde o Senhor manifestará o seu Poder e Glória! Não adiemos porque esta é a Quaresma das nossas vidas.

Termino com duas estrofes de um hino da hora de vésperas deste tempo: “Crescem nas asperezas do caminho / Pequenas flores brancas d’ esperança; / Não podem os espinhos afogá-las, / Pois foi o amor quem as chamou à vida.” “Escuta a nossa voz, Trindade santa, / E faz que a penitência quaresmal / Confirme a nossa fé e nos conduza / Ao encontro de Cristo glorioso.

Pe. Ricardo Franco
Edição 1363 - 16 de Fevereiro de 2024